sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Alcione Araújo - Um pescador de palavras!





Morreu Alcione Araújo. Alcione cronista, Alcione dramaturgo, Alcione romancista. Mineiro magoado com Minas, Mineiro de nascimento, Alcione tornou-se carioca por muito tempo, e, em Belo Horizonte, nas últimas duas vezes em que estive com ele: na Academia Mineira de Letras e na Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes, por ocasião do lançamento do seu último romance, Ventania, Alcione dizia ao público que os outros Estados o acolhiam melhor que Belo Horizonte. E eu ficava pensando o por quê. Coincidência ou não, quando, em dezembro de 2010, do lançamento do seu livro de crônicas: Cala a boca e me beija, na Academia Mineira de Letras, o auditório da Academia não estava lotado. Naquele mesmo dia, e mesmo horário, no auditório da Cemig, Luiz Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura se apresentavam ao público. Depois, na sala Juvenal Dias, em novembro de 2011, a presença de Alcione coincidiu com o show do cantor Roberto Carlos no grande auditório do Palácio das Artes. E fiquei pensando se o Alcione dizia isso pela ausência de grande público...
Certo é que o cronista Alcione Araújo que tanto encantava os seus leitores nas manhãs de segunda-feira, com a sua crônica no Jornal Estado de Minas, “encantou-se” em 15 de novembro de 2012, dia da Proclamação da República e pertíssimo de completar dez meses do falecimento de outro grande escritor mineiro, Bartolomeu Campos de Queirós, em 16 de janeiro deste ano. E eu lhe dizia que não havia dia melhor para as suas crônicas: segunda-feira, início da semana, quando muitos estão apáticos pela semana de trabalho que se inicia, abrir o jornal, pela manhã, antes de “pegar no batente” e dar com a prosa poética do Alcione, falando de pássaros, de mar, de amor, da chegada do outono, era o mesmo que se alimentar de coragem, de ânimo para dar sequência à vida... Alcione Araújo faleceu em um hotel de Belo Horizonte, após retornar de um evento em Ouro Preto. Por ironia do destino, nos braços da capital mineira.
Tal qual a ave marinha, alcíone, que mergulha para apanhar peixe, o escritor Alcione Araújo mergulhava fundo na literatura, pescando, para nós, seus leitores, as mais belas palavras.
As segundas-feiras mineiras não serão mais as mesmas, Alcione.
Amanheceremos vazios de você!

11 comentários:

  1. Eu soube por este post do falecimento deste ícono de nossa literatura. Em agosto de 2011 encontrei-o na Jornada de Literatura em Passo Fundo, quando passei-lhe um abraço seu,Fátima. Ele estava tão bem. O que será que deu nele que se foi, no mesmo dia em que perdi um grande amigo de convivência pessoal aqui. 15 de novembro me deixa mesmo de luto. Resta a memória do grande cronista e todas as suas palavras escritas. A Jornada Passofundense ficará muito mais órfã também.

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    1. Obrigada, amigo Roque. Certamente, o Alcione ficaria muito feliz com a suas palavras.

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  2. Bela homenagem, Fátima. Nunca me esquecerei do quanto as palavras de Alcione Araújo me guiaram na Chapada dos Guimarães. Que a sua caravana da ilusão siga em frente, agora, além do horizonte.

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    1. Linda homenagem no seu blog, André. Vocês dois lado a lado: dois grandes escritores. Obrigada a você.

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  3. Numa época de cronistas que só querem ser rebeldes e, muitas vezes, "chulos", perder um escritor que ainda prezava pela riqueza literária e nos iluminava a manhã,como você descreveu, é um dó imenso. Belíssima homenagem e, pelo visto, bastante merecida!

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    1. Obrigada, querida filha. Você que também compartilhou comigo das leituras das crônicas do Alcione.

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  4. O que mais dizer depois de sua homenagem ao Alcione?
    Tomo a liberdade de reproduzir, aqui, um mail trocado com o Alcione.

    Belo Horizonte, 02 de janeiro de 2007.

    Prezado Alcione,


    Seu livro: Escritos na Água, presente no meu coração,
    presente de minha cunhada, (Fátima Soares Rodrigues) com uma bela dedicatória.
    Há muito você é alvo de nossos comentários, a cada nova
    crônica no jornal Estado de Minas: sentimentos semelhantes
    conclusões inteligentes e todo o confete que você merece.

    É muito bom reler, em livro, tuas crônicas e um tema me
    despertou atenção: O outono!
    Não quero me gabar não, mas sou um especialista em outonos,
    principalmente os do Rio.
    Vou dar-te algumas dicas na sua busca por ele, o lugar certo para
    achar o outono "físico" no Rio é o seguinte:

    Roteiro 1: Pegar a Barca na Praça XV, saltar em Niterói e ir
    até o Bairro São Domingos dá pra ir a pé.
    Período de encontro do Outono: 29 de março a 07 de abril.


    Roteiro 2: Pegar o lotação para a Gávea, saltar no Teatro Clara Nunes, ir para a rua do Oitis até o final.
    Período de encontro do Outono: 27 de março a 05 de abril.


    Eu pelo menos encontrei em vários outonos, o meu outono outono, nesses lugares e nesses períodos, encontrei outros outonos não tão expressivos, talvez fossem só físicos, mas aquele outono outono! De corpo e alma!
    Esse aí é como o sertão do Guimaraes Rosa: Tá dentro da gente!

    Por fim, "Há um lugar pra ser feliz sem ser em Paris, Outono no Rio".(Ed Motta).

    Um abraço e seja feliz em todas as estações, como um trem que sempre
    chega a cada estação.

    Célio Antonio Manso

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    Resposta do Alcione:
    Caríssimo Célio,

    Antes de mais, minhas desculpas pela demora da resposta. Estava em férias em lugar inacessível, voltei no último domingo, e só agora posso responder a sua amável mensagem. Aliás, amável diz pouco: inteligente e sensível é mais próximo da verdade. Creio que temos, de fato, o outono como tempo do deleite. Vou guardar a indicação de Niterói e, no próximo março-abril, ir ao bairro São Domingos. Agora, por incrível que pareça, o roteiro da rua dos Oitis eu já fiz. Tenho amigos que moram por ali, Oitis e Rubens Vaz, e costumo passear, ora à tarde, ora pela manhã, à sombra das castanheiras. E fiz isso várias vezes no outono. O mundo é menor do que a gente supõe e as semelhanças maiores do que se imagina. Vide o velho Rosa, paixão definitiva.

    Agradeço-lhe a delicadeza da mensagem e a generosidade das palavras. Aceite o meu abraço,

    Alcione

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    1. É Célio. Tristes por saber que não mais obteremos a atenção deste cronista que tanto respeito tinha pelos seus leitores. Já estamos com saudades!

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  5. Hoje eu reli essa tua homenagem ao exímio Alcione. É tocante, linda, decerto ele ia gostar demais. Obrigada por nos emocionar tanto, Amiga! Já estamos com saudades, decerto!

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    1. Obrigada, queria amiga poetisa, sonetista, escritora Cris. Pela sua disponibilidade de leitura e atenção.

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  6. Muito lindo Fatinha. Parabéns! Se puder, comente esta história com minha irmã. Abs.

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