Entro em campo, diariamente, em meio a mais de um
milhão de pessoas que habita esta metrópole.
O tempo da partida é cronometrado
sagradamente todos os dias, o que não me impede de, quase sempre, fazer jus da
prorrogação, principalmente em se tratando da minha sobrevivência: meu horário
para almoçar sempre ultrapassa o horário normal de muitos viventes...
Nas diversas conquistas às quais me submeto,
sofro diversos escanteios (nos ônibus, nas filas...); faltas – na aglomeração
das ruas, sou atropelado por transeuntes mais que apressados...; e cartão
amarelo é o que acumulo desde que me tornei cidadão com inúmeras
responsabilidades: no trabalho, então, sempre sou alertado que: “desta vez
passa, mas, na próxima...”
A mudança de técnicos que me comandam, seja
na vida particular como na profissional, se dá esporadicamente. Se, no amor, a
coisa não vai bem, logo acho substituta; já, no trabalho, a coisa é mais
demorada, afinal, tenho de avaliar os custos de uma substituição à altura...
Tenho consciência dos sacrifícios necessários
nesta competição acirrada, por isso, submeto-me a diversos exercícios físicos e
mentais, mesmo cansadíssimo da jornada...
Vez por outra, penso em deixar o time da casa
e arriscar uma conquista maior no exterior, porém, o orgulho pela camisa que
visto ainda é grande...
Quando insisto em driblar as regras do jogo,
posso ser retirado de cena definitivamente, abortando um futuro promissor, ou
levar um cartão vermelho, dando descanso temporário ao meu corpo e minha mente,
para retornar recuperado...
Finalmente, após acumular várias perdas e
vitórias, às vezes, mais perdas que vitórias, encerro minha carreira no jogo da
vida e me transformo em mais uma estrela neste espaço infinito...